uanta emoção e espectáculo na arte destes toureiros!
Publicado na Segunda-Feira, dia 24 de Novembro de
2008
Mário Aguiar Rodrigues
É ponto assente e não há volta a dar!
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Boa parte do sucesso dos espectáculos tauromáquicos em
Portugal fica a dever-se à acção dos forcados. São os forcados responsáveis
ainda pela presença (crescente!) de ente nova nas praças de toiros,
jovens fascinados pela emoção, arrojo e arte da Pega de Caras.
Quantas vezes não se resumem as corridas ao conjunto
de pegas valentes em contraste com o descolorido desempenho de outros
toureiros, quantas?
Envergue ou não a jaqueta de grupo com história;
seja ou não seja o grupo filiado na associação de classe; pegue ou não pegue o
grupo mais de vinte corridas, o forcado na arena assume sempre o estatuto de
toureiro de primeira, quando avança, quando cita, quando se fecha à cornea ou à
barbela, quando ajuda, quando rabeja. O toiro, quando se arranca, não lhe
questiona identificação, classe social ou pergaminhos, nem o cumprimenta pela
antiguidade das ramagens da jaqueta.
Os forcados são todos iguais e todos humanos. Como
tal, têm dias e dias, bons e maus, tardes de glória e outras de tristeza e
“vergonha”. Mas continuam forcados embora isso possa desagradar a uns tantos
presumidos.
Esta verdade caracteriza as temporadas, uma a uma, em
cada corrida, em cada praça. O mesmo forcado, que ontem encheu o título da
crónica, pode não merecer uma linha na apreciação do espectáculo de hoje mas,
lá por isso, não deixou, e não deixa, de ser toureiro, pronto para a próxima
chamada.
Na temporada açoriana de 2008, os forcados reclamaram
boa parte da atenção dos média pela alta qualidade das actuações.
Com um ano de existência, os Forcados Amadores do Ramo
Grande obtiveram o reconhecimento da Associação Nacional de Grupos de Forcados.
O facto permitiu que, pela primeira vez, a Feira de São João apresentasse no
cartaz dois grupos terceirenses (devidamente legalizados).
O reconhecimento do Ramo Grande pela ANGF e a inclusão
nas Sanjoaninas foram acontecimentos relevantes no historial da forcadagem nos
Açores.
Outro dado para a história de 2008 esteve nas
celebrações dos 35 anos de actividade do Grupo dos Amadores da Tertúlia
Tauromáquica Terceirense.
De referir que outro ponto alto da temporada foi a
presença dos Amadores de Lisboa na Feira da Semana Cultural das Velas, S.
Jorge. Por sua vez, os Amadores de Turlock (California) dividiram as pegas na
Feira da Graciosa com os Amadores da T.T.T., depois de, em 2007, o terem feito
em S. Jorge.
Na Praça Ilha Terceira, a temporada apontou 3 grupos
de forcados: Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, Amadores do
Aposento da Chamusca, Amadores do Ramo Grande.
O protagonismo destes grupos foi (sempre) louvado na
escrita dos jornais e revistas, no som e imagem das rádios e televisões quando,
fardados, interpretavam o toureio na arte de pegar toiros.
A temporada abriu com o festival “Luís Fagundes”.
Perante 7 novilhos/toiros de 6 ganadarias terceirenses, os Amadores do Ramo
Grande honraram as jaquetas com uma série de pegas de qualidade, emoção e
espectáculo. Foram caras César Pires (a dobrar o Cabo, Filipe Pires), Manuel
Pires, André Parreira, Hugo Neves, Bruno Anjo, Nuno Pires e Valter Silva.
Vieram as Sanjoaninas ( 4 Corridas) com disputa
acesa entre os dois grupos da Terceira. No concurso, destacou-se Álvaro
Dentinho, dos Amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense, na pega ao 3º da
segunda corrida, exemplar de Irmãos Toste, lidado por Rui Lopes.
Em Julho, o Concurso de Pegas da II Corrida do
Emigrante exigiu muita entrega aos Amadores da Tertúlia Terceirense e aos
Amadores do Aposento da Chamusca. Que noite para os forcados !
Marco Sousa, da T.T.T., foi distinguido com o troféu
da melhor pega mas qualquer outra poderia ter saído triunfadora já que César
Fonseca e Décio Dias (TTT), João Braga, João Vinagre e Alexandre Miga (Ap.
Chamusca) foram enormes de valentia, arrojo e técnica.
Novo despique entre os grupos terceirenses aconteceu
em Agosto com as Festas da Praia da Vitória (Corrida Mista, 7 toiros). Foram 5
pegas monumentais: César Fonseca e João Pedro Ávila (TTT), Manuel Pires e
André Parreira (R. Grande). A 5ª intervenção dos forcados, com Nuno Pires na cara,
foi levada a cabo por um misto dos dois grupos com Álvaro Dentinho a rabejar. A
título de exemplo, a pega de Manuel Pires (R. Grande) ao 2º da ordem, exemplar
de Irmãos Toste, 520 Kg., foi qualquer coisa de extraordinário. O forcado
sofreu, e aguentou, 8 derrotes violentos até se fixar definitivamente na
barbela. Oito derrotes... contados, um a um, na sequência fotográfica de um dos
companheiros de trabalho na trincheira.
A temporada fantástica dos forcados encerrou na Praça
Ilha Terceira com o Concurso de Ganadarias/Corrida dos 35 anos dos Forcados da
Tertúlia Tauromáquica Terceirense ( 6 toiros + 1 novilho extra-concurso).
Os Amadores em festa de aniversário exibiram-se a
contento com intervenções de Adalberto Belerique, o Cabo do Grupo, César Fonseca,
Marco Sousa, José Vicente, Décio Dias, Helénio Melo ( a dobrar João Pedro
Ávila, lesionado) e Álvaro Dentinho.
Não há mesmo volta a dar. A “corrida à portuguesa”
vive muito à conta da acção dos forcados.
Graças a Deus, por estas bandas atlânticas, há cada
vez mais jovens a juntar-se aos Grupos de Forcados da Terceira, os Amadores da
Tertúlia Tauromáquica Terceirense e os Amadores do Ramo Grande.