Noite em Grande do Ramo Grande no Campo Pequeno
O dia 3 de Maio de 2012 ficará na história deste novel grupo de forcados, por ter sido a primeira vez que pisaram a arena do Campo Pequeno e por terem sido, sem dúvida alguma, os triunfadores da corrida.
Os que me conhecem sabem da minha ligação ao grupo do Ramo Grande que vi nascer em 2006. Estes jovens são oriundos de uma geração fantástica de forcados nascidos no Concelho da Praia da Vitória, que em cinco anos foram capazes, de uma apresentação digna e memorável, de se apresentarem na feira de São João no ano seguinte ao da sua fundação já como grupo associado na Associação Nacional de Grupos de Forcados e de pisaram todas as arenas açorianas com sucesso. Foram os primeiros a pisar arenas espanholas, em corridas televisionadas, vencendo aí um concurso, igualmente pisaram praças continentais, com prémios à mistura, e foram ao Campo Pequeno escrever no livro de ouro da Tauromaquia Terceirense, que na Praia da Vitória existiu e existe um grupo de forcados capaz de chegar à primeira praça do país e triunfar.
A segunda corrida de abono da temporada 2012 do Campo Pequeno, trazia em cartaz as duas cavaleiras portuguesas de maior relevo, Sónia Matias e Ana Batista, juntamente com os matadores de toiros Luís Vital “Procuna” e David Mora, toiros de São Torcato e os amadores do Ramo Grande.
O primeiro da noite trazia o número 105 no costado, 4 anos de idade e tinha sido batizado com o nome de “Arena”, foi lidado a duo pelas duas cavaleiras do cartel, que mais uma vez provaram que o toureio a duo não serve os princípios que norteiam o bom toureio a cavalo. As cavaleiras não se entenderam na brega e colocação do astado, cravaram essencialmente a cilhas passadas, perdendo-se assim a emoção do toureio frontal e consequentemente o perigo que acarreta cravar ao estribo. Para ajudar à festa os ferros tiveram colocação deficiente. Uma lide sem história a um toiro bravo, encastado e nobre que merecia uma lide superior.
A quarta e quinta lide teve o mesmo afino. A primeira por Sónia Matias com ferros pescados, à garupa passada e com toques na montada à mistura. De tudo um pouco salpicou a cavaleira o bravo, encastado e cheio de trapio, “Fado”, outro de São Torcato, com cinco anos e meio, que merecia melhor lide.
O quinto da noite, de nome “Murtoso”, outro cinqueño, mais complicado e com muito sentido, não foi entendido pela cavaleira Ana Batista, que optou por sortes ao pinton contrário de onde saíram sortes desajustadas, com ferragem cravada à garupa, toques e mais toques numa lide de baixo nível.
O toureio a pé foi na mesma onda do toureio a cavalo, é verdade que os toiros eram encastados, como devem ser todos os que se lidam na primeira praça do país, mas os mesmos mereciam outras lides, de poder, de grande entrega e conhecimento por parte dos seus lidadores. Com toiros destes, encastados e com mobilidade a sorte de varas é necessária e com certeza se tivesse sido realizada, a parte apeada da corrida teria tido outro sabor.
Nas duas lides de “Procuna” o destaque vai por inteiro para os dois tércios de bandarilhas, com pares a quarteio arrimadíssimos finalizados com pares ao violino. No capote esteve variado, com “verónicas”, “chicuelinas”, “delantales” e “parons”. Na muleta veio a baixo o tom das lides e o toureiro português não foi capaz de ir mais além do que alguns passes pela direita com profundidade mesclados com outros onde faltou acoplamento e temple às investidas dos oponentes.
David Mora na sua apresentação em Lisboa desenhou com o capote “verónicas” de muita plasticidade e de sabor sevilhano, rematadas por arrimadas e templadas meias-verónicas. Os tércios de bandarilhas foram executados pela quadrilha, que não se acoplou à investida sem varas do toiro, saindo as sortes desastrosas. Redimiram-se contudo no segundo do lote do seu matador. Da muleta de Mora saíram alguns muletazos bem conseguidos onde se notou o placeamento deste novo matador de toiros espanhol, auspiciando-se-lhe um futuro risonho.
Por último, mas com a certeza de que foram os primeiros, estiveram em grande plano os amadores do Ramo Grande capitaneados por Filipe Pires, que em noite acertada escolheu os forcados que ajudaram a elevar bem alto o nome do grupo da Praia da Vitória. Foram três pegas de nota alta, as duas primeiras com a irrepreensível ajuda do grupo, a terceira mais espetacular mas onde a ajuda das tábuas foi a mais eficaz. Na cara do 1º, 4º e 5º da ordem, um quatreño e dois cinqueños, estiveram soberbos os três irmãos, Manuel, Miguel e Nuno Pires.
O primeiro deu vantagens ao toiro, citou com galhardia, o toiro saiu pronto para o forcado reunir na perfeição, de braços e pernas bem fechado. O toiro parou na viagem a derrotar rodando pelo piton direito. Primorosa foi a mão de Francisco Toste “Caneco” que mesmo a rabejar não deixou de ajudar o companheiro. Nesta pega ajudaram, Ruben Monteiro, Miguel Toste, Filipe Lemos, Francisco Toste “Caneco”, Tiago Pinheiro, Vítor Oliveira “Batata” e Délcio Gomes.
Ao quarto da noite foi à cara Miguel Pires, citou com raça, carregou a sorte na altura certa, faltou contudo um pouco de voz após um feio do toiro que parou a meio da investida. É preciso ter coração e alma para aguentar uma investida pouco ou nada franca de um toiro com cinco anos de idade. Grande ajuda do grupo com destaque para o segundo ajuda Rui Costa. Ajudaram nesta pega os forcados Vítor Oliveira “Batata”, Rui Costa, Valter Silva, Francisco Toste “Caneco”, Tiago Pinheiro, Filipe Lemos e Berto Messias.
Nuno Pires finalizou a atuação do grupo do Ramo Grande com uma pega vistosa, com o toiro a arrancar-se de largo entrando pelo grupo dentro fechando o mesmo junto às tabuas. Ruben Monteiro, Miguel Toste, Valter Silva, Manuel Pires, Berto Messias, Vítor Oliveira “Batata” e Délcio Gomes ajudaram a consumar esta pega. Fardaram-se ainda César Pires, Alex Rocha, André Parreira e Marcelo Ourique.
Assim foi uma noite em Grande do Ramo Grande no Campo Pequeno.
Duarte Bettencourt (texto
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